sábado, 14 de abril de 2012

O Futebol e o Poder


Digressões não tricolores, numa manhã de sábado em Brasília:


A Presidenta Dilma Rousseff diz que torce pro Atlético, em Minas, e pro Inter, em Porto Alegre. Consta que essas preferências afloraram publicamente na campanha presidencial de 2010, quando ela não seria doida de dizer que seus times do coração eram o Cruzeiro e o Grêmio. Mas, do seu coração mesmo, juram os amigos mais íntimos, é o CSKA Sofia, atual líder do campeonato búlgaro.

E o Michel Temer, essa versão masculina contemporânea da grã-fina de nariz de cadáver imortalizada por Nelson Rodrigues, pra que time torce?. Tal como ela em dia de Fla-Flu, o Temer, se um dia fosse ao Pacaembu ver, por exemplo, um Corinthians x Palmeiras, perguntaria ao assessor dedicado: “Mas, quem é mesmo a bola?”. A propósito, minha querida amiga Socialite dos Pés-Descalços jura de pés juntos que a mãe jamais pronunciou a antológica frase, que a frase não passou de mais uma genial invenção literária do Nelson, mas que ela hoje não se importa mais com isso, pois a frase assegurou a imortalidade da mãe na rica história do futebol brasileiro. Porém, ferina e politizada, Socialite acrescenta: “Mas, se mamãe não falou, o Temer certamente falaria; aquele engomadinho!”

Paulistana de nascimento, a Ideli Salvatti,  quando menina, queria porque queria jogar no juvenil do Palmeiras, mas, além de ser menina, era gordinha; o duplo preconceito impediu que realizasse aquele sonho de infância. Hoje, diz que torce pro Avaí, e só lamenta que seu clube do coração não tenha construído o Estádio da Ressacada à beira mar, pois só assim poderia escapar do trânsito infernal no caminho do estádio em dia de jogo, indo pra lá da lancha. Já a Gleisy Hoffman afirma torcer pro Londrina, mas nem gosta de futebol. Na adolescência, fez intercâmbio no Arkansas e foi cheerleader do time de baseball da sua high school. E parou por aí a sua história esportiva.

E o Lula? Esse todo mundo sabe. Ama futebol de paixão, corinthiano roxo e, simbolicamente, padrinho do Itaquerão. O Lula fez tanto pra que se construísse o estádio e pra que nele fosse realizado a abertura da Copa, que o Itaquerão deveria se chamar Arena André Sanchez Lula da Silva. O ex-presidente foi um excepcional meia-esquerda na juventude, capitão e artilheiro do time do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. O técnico era o Zezão, que chegara a ser um botinudo volante do juvenil do Corinthians lá pelo fim dos anos 1950. Mas, quem escalava o time e definia a tática era sempre o Lula que, na época, não deixava ainda crescer a barba, mas o vozeirão rouco já estava lá. Os juízes e bandeirinhas da época que o digam.

O Zé Serra chegou a treinar no juvenil do Palmeiras lá pelos 1950 também. Mas, durou muito pouco a sua aventura esportiva. Foi mandado embora porque, imberbe, aos 15 anos, achava que entendia mais de futebol que o técnico; não só o do juvenil, mas o do profissional também. Apesar disso, jamais renegou seu coração de palmeirense nascido e criado na Moóca. Já o Fernando Henrique diz até hoje que não consegue entender essa mania de brasileiro com o soccer; palavra que pronuncia com sotaque britânico, mesmo sabendo que na Grã-Bretanha, soccer é football mesmo. Gente fina é outra coisa.

Mas, pra terminar essa digressão sobre o futebol e o poder, curiosa mesmo é a história futebolística de dois jovens de Goiânia: o Professor e o Doutor. O primeiro era um arisco ponta direita num time de várzea da cidade; time que ele patrocinava, embora ninguém soubesse donde que o dinheiro dele vinha. O outro, gorducho e pouco atlético, foi chegando na várzea meio devagar, como quem não quer nada e, como não soubesse nada de bola, virou juiz do campeonato. Até recentemente, tinha gente daquela época que desconfiava dos pênaltis que o Doutor gostava de marcar a favor do time do Professor. Mas, como, ao que tudo indicava, os dois não se conheciam, e jamais trocaram uma palavra, mesmo na cervejada depois dos jogos (aliás, o Doutor nem bebia, ao contrário do Professor, cervejeiro e malandro de dar dó), a desconfiança perdeu-se no tempo. Ou melhor, perdeu-se durante muito tempo, mas não para sempre, como os varzeanos daquela época descobriram agora; eles e o resto do povo brasileiro: o Professor Carlinhos Cachoeira e o Doutor Demóstenes sempre tiveram relações de cama e mesa, ou, pra ser mais correto, de copa e cozinha.






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