segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sobre o Cuca escreverei depois

Mal acabara o jogo com o Botafogo e telefonou-me a Socialite dos Pés Descalços. Tirando um tempo do seu incansável trabalho social junto às vítimas das tragédias climáticas que assolaram o Rio na última semana, minha velha amiga assistira no Maracanã a mais um fracasso do Fluzão em vencer clássicos e, pior, em disputar e ganhar títulos. Só não estava mais inconsolável porque ainda tinha muito claras nos olhos as imagens das recentes tragédias cariocas. E não iria comparar, como não o fez, a nossa derrota do sábado com o sofrimento de quem acabara de perder parentes queridos.

Mas, um pouco inconsolável ela estava, como eu estava, como, acho, todos nós tricolores estávamos em mais um fim de tarde, começo de noite, sem a vitória que nos colocaria de novo à beira do título da Taça Rio e, quem sabe, do Campeonato Carioca de 2010.

"Como você recorda", disse-me a Socialite, "mamãe não gostava de futebol (mamãe, para quem não se lembra, a mãe da tricolor Socialite dos Pés Descalços, era a Grã-fina de Nariz de Cadáver, imortal personagem de Nélson Rodrigues). Não gostava, sequer sabia 'quem' era a bola, mas se divertia, por exemplo, com as histórias do nosso suposto 'timinho' dos anos 1960; aquele, treinado pelo Zezé Moreira, que só ganhava de 1 a 0, mas ganhava. Timinho de campeões".

"Mas, o que temos hoje? Um clube cujos times não ganham campeonatos com consistência desde os 1970 da Máquina Tricolor!"

Como contestar a Socialite? Como não compartilhar a sua angústia, às vésperas de ver o Flamengo, logo depois de derrubar a nossa hegemonia de títulos (há tanto tempo) ganhos, tornar-se o primeiro tetra-campeão do futebol carioca? Basta que vença duas vezes o sofrível Botafogo, sem dúvida o mais frágil dos chamados 'grandes' do Rio de Janeiro de hoje.

De novo, e compartilhei essa angústia com a Socialite durante nossa angustiada conversa pós-jogo, sábado passado, vejo-me diante do espectro de um Fluzão transformado em uma Portuguesa de Desportos ou, pior, em um Ameriquinha - aquele clube tantas vezes campeão, mas em tempos tão passados que não chega à memória das novas gerações.

E, por falar em Portuguesa, será ela nosso próximo advesário na Copa do Brasil.
Com os ânimos combalidos de sábado, trememos, eu e a Socialite, só de pensar em perder para o honorável, mas modestíssimo, ex-grande paulista.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Meu anti-personagem do mês

Ele não tem a elegância do Jair Santana, a classe, raça e o passe do Denílson; não tem a disciplina tática do Jandir, a força do Carbone, e muito menos a picardia de Carlos Alberto Pintinho. Ele é destrambelhado, atrapalhado, quase sempre violento, um brucutu que conduz a bola demais porque não sabe passá-la com rapidez e precisão. Ele é o rei dos cartões amarelos, das faltas próximas da grande área; ele é Diguinho, que elejo, sem culpa, o meu anti-personagem do mês de março. Forte anti-candidato a anti-personagem de 2010, se o Cuca, que, aliás, o considera um virtuose, não tiver um inesperado ataque de lucidez.

Meu personagem do mês

Ele não tem a elegância de Píndaro, ou a força de Jair Marinho; não tem a velocidade do Toninho, e, é claro, não tem nada do que tinha o maior de todos; Carlos Alberto Torres. Mas, o Mariano já está a merecer um reconhecimento deste blog, que tanto o malhou no ano passado, e que não chegou a reconhecer nem suas boas atuações na memorável campanha da reta final do Brasileirão de 2009. Se hoje o Gabriel, lateral direito de mais recente memória, voltasse de onde quer que esteja (Turquia?)e se apresentasse para jogar de graça, eu diria: Thank you, Gêibriel, mas estamos muito satisfeitos com o Mariano. Ele não marca lá muito bem, mas você também não marcava; ele é mais veloz que você, e corta melhor para o meio. Vá lá que o passe não é essas coisas (ainda?), e que ele muitas vezes se afoba nos contra-ataques, adiantando demais a bola e facilitando o desarme. O chute de longe é descalibrado, porém já marcou duas, três? vezes, de perto, no Carioca. E, acima de tudo, Mariano estampa no rosto, não a máscara de um Leonardo Moura, mas um pungente olhar de franciscana humildade. Olhar de menino simples, de passarinho assustado, como se não acreditasse no sucesso que passou a lhe ser mais generoso.

Mariano é, com justiça, acredito, o meu personagem do mês de março.