segunda-feira, 6 de março de 2017

O Menino da Ceilândia

Em 2012, quando subiu das categorias de base para a equipe principal do Fluminense, o menino Marcos Júnior, depois de fazer o quarto gol na decisão do Carioca daquele ano - vitória de 4 a 1 sobre o Botafogo -, na entrevista de final de jogo, entusiasmado, falou ao repórter, e eu parafraseio:

- O professor - que só poderia ter sido mesmo o Abelão - me disse pra entrar e resolver; eu fui lá e resolvi.

Foi o que bastou para Deco, então o mais vencedor daquele elenco do Fluminense, que tinha Fred e Tiago Neves, entre outros, e que terminaria o ano como campeão brasileiro, arrumasse logo um apelido para o atrevido e elétrico novato:

- Resolve.

Em 2011, na final do Torneio Otávio Pinto Guimarães, competição carioca de juniores, da qual ele foi o artilheiro com 9 gols, depois de um empate com o Flamengo por 3 a 3, que deu o título ao rubronegro, Marcos Júnior chorou copiosamente, pela derrota, é claro, porém, mais que tudo, porque seu pai, Antônio Marcos, por  falta de condições financeiras, não pudera viajar de Brasília para assistir o jogo (http://globoesporte.globo.com/futebol/times/fluminense/noticia/2011/11/atacante-da-base-do-flu-chora-pela-ausencia-do-pai-na-final-do-opg.html).

Marcos Júnior é filho da Ceilândia, a cidade-satélite, na verdade um dos grandes bairros periféricos de Brasília, com seus cerca de 400 mil moradores, que tem esse nome porque nasceu de um projeto socialmente cruel, logo após a fundação da nova capital, com o nome de Campanha para Erradicação das Invasões, daí o a acrônimo CEI, daí o nome Ceilândia. Considerado o mais nordestino dos bairros brasilienses, abrigo daqueles trabalhadores que ajudaram a erguer a nova cidade, que nela moravam em acampamentos precários, mas no Plano Piloto, e que dela foram afastados para as franjas precárias da capital do país.

Foi na Ceilândia que Marcos Júnior deu seus primeiros chutes em uma bola de futebol, e é na Ceilândia que ele mantém um projeto social, uma escolinha de futebol, fazendo o que muitos atletas como ele fazem - dar retorno social às comunidades pobres de onde vieram, e de onde saíram graças ao esporte.

Mas, e voltando ao Deco e ao apelido - do qual ele hoje já se livrou: Marcos Júnior resolve?

Sim, se não vejamos: de seus pés saíram os gols dos últimos título do Flu: o da Primeira Liga, ano passado, e o da Taça Guanabara, ontem.

Nossas homenagens candangas, pois, ao Menino da Ceilândia.

De resto, muita vontade de falar mais sobre o jogo de ontem.

Mas, por ora, apenas um registro emocionado.

Afinal, como não se emocionar diante da emoção de Abel Braga, um dos mais  vitoriosos, e veteranos, treinadores do nosso futebol, às lágrimas, ontem, depois de o Fluminense, em jogo épico - digno de um Nélson Rodrigues - vencer nos pênaltis a Taça Guanabara. Sim, a Taça Guanabara! Um primeiro turno de um, por vezes, molambento campeonato carioca, que só garante vaga na semifinal. Se o choro do Abel não reflete um baita amor pelo Fluzão, o que mais refletiria?





3 comentários:

João Carlos Teatini disse...

Grande vitória ontem, que poderia ter sido no tempo normal, num ótimo FlaxFLU, que lembrou os bons tempos. O Abelão deu um nó tático no Fla, mesmo sem Scarpa e Douglas. Não ligo para esse carioca, mas dá para ter esperança no Brasileiro com a meninada e os equatorianos! Parabéns Tricolor!

Rogério Tomaz Jr. disse...

Belo registro. Eu tinha o Marco Jr. como um jogador limitado, mas rendi-me ao esforço e à garra e coragem nos momentos decisivos. E agora, com esse histórico, virei admirador do ser humano. GRANDE MARCO JR!

Murilo César Ramos disse...

Pois é, Rogério: um belo atleta que temos, e mais um com uma dessas histórias de superação, que elas próprias superam qualquer clichê.

É isso aí, Teatini. Ninguém dava nada pelo nosso time, e devagarinho acabaremos chegando lá. Não sei ainda nem bem onde, mas vamos chegar.